Seguimos à risca as recomendações do Governo Rodrigo Guedes de Carvalho e, por isso, estamos fartos de estar em casa. Saímos porque precisamos e não porque queremos. Não temos sintomas da maldita doença, muito embora se grite "COVID" a cada vez que se espirra nesta casa! Olhamos uns para os outros com ar intrigado. Pensamos forçosamente no pior! Os níveis de tolerância diminuíram drasticamente nesta última semana. Já fomos mais simpáticos e cordiais uns para os outros. Já falámos mais baixo. Naturalmente, o tom de voz subiu. De todos. Com a grande exceção para as tartarugas que escolheram esta altura do ano para "acordar". Mal sabem elas do bicho assassino que anda neste mundo. Descobrimos recentemente que a pré-adolescência e o fazer pouco dá fome, muita fome. Do continente online só volto a ter notícias lá para o fim de Abril, o que não é bom tendo em conta essa tal fome devoradora que tomou conta dos miúdos. Neste fase, pouco ou nada se reclama do "outra vez arroz". Azar de quem está enjoado de arroz. Come melhor na refeição seguinte que isto é uma roda viva de refeições. A toalha de mesa colou-se à mesa e tudo leva a crer que vai ficar por tempo indeterminado. Convenceram-me a fazer um doce. Sujámos vinte acessórios. Detesto. Mas comi o doce, sem mágoas! Não têm chovido mails com trabalhos de casa para os estudantes da casa porque agora sim, estes dias são de férias da Páscoa. Ufa, que alívio! Posso dedicar-me só ao meu trabalho. O Fortnite não perde protagonismo nem mesmo perante uma pandemia. Os mais novos discutem por tudo e por nada e na maior parte das vezes tem a ver com o jogo, ou com a internet que resolve parar, ou somente porque estão fechados em casa sem conviver com miúdos da idade deles! Os cães devem estar a gostar da agitação e de ter sempre companhia. Contudo, se falassem, creio que nesta fase pediriam mais sossego! Aproxima-se o fim-de-semana. Vai ser mais do mesmo. Telejornais monotemáticos. Números que duplicam. Reportagens aflitivas da SkyNews em Itália. O drama em Espanha. O sistema de saúde para ricos nos Estados Unidos. Tudo em mau. Em angústia e desconsolo. Por cá renova-se o Estado de Emergência. Mais quinze dias sem planear nada neste estranho modo de vida. Não há como fugir a este triste confinamento. É pedir aos santinhos para que o juízo se mantenha à tona e não seja açambarcado pelo medo. Mas pedir muito. Com firmeza.
Ainda não engordei uma grama à custa desta quarentena mas ainda tenho esperança que tal venha a acontecer pois não sei durante quanto tempo é que vou continuar com esta vida de merda isolamento. Em boa verdade, nunca, em circunstância alguma, tendo a enfiar-me na cozinha e a inventar receitas com o que tenho em casa mas, tudo me leva a crer que num futuro próximo eu tenha de fazer como todos vocês ... bolos e pão! Até lá, permitam-me resistir. Ainda não consegui "marikonar" gavetas e armários porque, efetivamente, continuo sem tempo. Em regime de teletrabalho e com filhos no 2º e 3º ciclos ter tempo é coisa para outras núpcias e, acreditem, as gavetas podem esperar por melhores dias tal como o exercício físico!
Os meus grupos de whatsapp estão com uma atividade nunca antes alcançada. Escusado será dizer que o tema dominante é a COVID-19, sendo que até há umas semanas o tema de um dos grupos era uma viagem que tínhamos marcada a ... Itália, o epicentro da epidemia! Acertámos na mouche! Claro que não fomos, ficámos em terra, concretamente na aldeia, enfiadas em casa! No meu e-mail o mesmo cenário caótico. Os professores enviam trabalhos e mais trabalhinhos e apresentações em powerpoint e páginas e mais páginas para ler e exercícios para resolver .... E sabem quem é que veio hoje dizer que está a atingir um cansaço extremo com isto das aulas à distância, sabem? os professores! os coitados dos professores! a sério? querem comparar-se a quem? a médicos e enfermeiros? Uma palavra para os professores (especialmente para aqueles que não querem ser avaliados): fiquem em casa meus queridos, lavem as mãos com água e sabão e já agora ... manquem-se! Este não é o vosso momento.
Portanto, é o que posso adiantar sobre esta triste e desagradável quarentena. Sinto-me fraca a apurar os pontos positivos do confinamento a que estou "obrigada". Não lhe vejo um fim. Nem muito menos um "vai ficar tudo bem". Questiono-me quando é que isto vai passar? Será que vai? Em que moldes vamos todos voltar a "bater perna", a conviver, a conversar, a festejar? A nossa vida vai voltar a ser como era? As crianças vão voltar a conviver umas com as outras? Durante quanto tempo iremos manter-nos em isolamento, com a vida social pausada? Durante quanto tempo vamos olhar para os outros de lado e achar que estão a passar-nos o vírus? Durante quanto tempo vamos ser responsáveis e ficar em casa? E pergunto-me, repetidamente, quem será que vou perder para a merda da COVID-19?