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A Rapariga na Aldeia

A Rapariga na Aldeia

Nada na Piscina

Completa(MENTE) escrito por Sónia Vaz 

Cresci a ouvir a minha mãe dizer que em assuntos de ‘rapazes pequenos’ - conotação equivalente a crianças, na sua gíria particular – os adultos não se devem meter. Que eles os resolvem sozinhos e melhor. Claro, que crescendo a ouvir isto, nunca, e entenda-se, nunca mesmo, fiz queixinhas de qualquer espécie acerca de quem quer que fosse. Fui-me resolvendo e aos meus issues sem passar pelo colo. Se sempre os resolvi da melhor maneira? Talvez não. Se por vezes precisei desse colo? De certeza que sim. Mas a minha mãe nunca se desentendeu com a mãe de nenhuma amiga, nunca foi à escola fazer fitas e eu sempre me senti responsável pelas coisas que me iam acontecendo. Sofri? Claro que sim. Mas sofri tomando uma grande consciência das coisas e percebendo que muitas vezes, as reações dos outros para connosco, não são mais do que aquelas que lhes provocamos. Intencionalmente ou não.

Hoje, ao final da tarde, fui fazer uma caminhada na praia com o meu marido. Os nossos filhos ficaram no toldo com alguns familiares e amigos de longa data. Quando voltámos, notei uma enorme tristeza no olhar do meu filho, que ao ser interrogado acerca do que se passava, se fechou em copas (mas porque é que perguntamos sempre o que se passa se sabemos que automaticamente nos vão responder: nada!!!). Nenhum dos adultos tinha também notado nada.

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O Duarte é um miúdo extremamente alegre. Jamais estaria assim por nada. Foi então, que no caminho para casa percebi que todos os meninos haviam sido convidados para um sunset na piscina de uma das crianças do grupo. Todos menos os meus filhos.

Quando perguntei ao meu filho se era esse o problema, começou imediatamente a chorar- já a Sofia, nem ligou! Mas o que mais o tinha chocado era o facto de ter sido a mãe do amiguinho a proibir a sua presença. Claro que o meu filho não entendeu, nem eu. Mas na realidade, nenhum dos dois tinha de entender, porque ninguém é obrigado a convidar ninguém para o que quer que seja, nem a tomar conta de mil miúdos numa piscina, nem sequer a gostar de toda a gente, sejam adultos ou crianças.

Quando finalmente chegámos a casa, expliquei-lhe que já fui rejeitada muitas vezes. Já tive uma melhor amiga, que arranjou outra melhor amiga, deixando-me ali perdida o meio. Já tive namorados que me deixaram porque gostavam de outra pessoa. Outros por quem fui apaixonada e nunca correspondida. Festas para as quais não fui convidada. Um rol de situações melodramáticas e choradeiras infindáveis, normalmente resolvidas por uma canção dos Bon Jovi. Ou outra amiga. Ou outro namorado. Viver é mesmo assim. As pessoas não gostam todas de nós, tal como nós também não gostamos de todas as pessoas. Anuiu. Em choque com esta constatação que havia de lhe bater à porta. Better sooner than later. Esta lição já aprendeu.

Não contente, quis ainda que tomasse responsabilidade pelo sucedido. Pedi-lhe que pensasse nas razões que poderiam levar a mãe de um amigo a não querer convidá-lo para um mergulho na piscina. Somos responsáveis, eternamente responsáveis pelo que nos acontece. Vai ao teu íntimo e procura. Alguma resposta vais encontrar. Mas uma resposta para ti, que te ajude a melhorar e a crescer. Não mudes para os outros ou a mudança não será verdadeira, muda para ti, por ti. Essa resposta que encontraste não significa que não merecesses o convite. Isso já parte do outro. E o outro é todo um outro todo. Relembrei-o ainda, da relação que mantém hoje com o seu melhor amigo. Lembras-te como antes te queixavas que ele te batia e corria atrás de ti? E lembras-te do que te dizia? Dizia-te que se calhar, ele precisava da tua atenção para se tornar melhor. Nunca te pus contra ele. Nunca o excluí. Olha como são amigos hoje. A resposta está em nós, meu amor. Sempre em nós. Mas nem todos pensam assim.

 

Sónia Vaz

Professora de Inglês - 1º ciclo