Entrevista a Carla Silva
Carla Silva é preparadora física de árbitros de futebol (onze) no Centro de Treino de Lisboa, da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Formada em Ciências do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana, sempre exerceu funções ligadas ao desporto. Enquanto profissional, assume-se como exigente e determinada. Espectadora assídua de futebol, hoje, a partir das 20 horas, vai estar atenta à arbitragem e obviamente a torcer por Portugal.
Eu e a Carla no Complexo Desportivo Municipal Monte da Galega, na Amadora.
Em que consiste a preparação de um árbitro?
A preparação divide-se em três vertentes: física, técnica e psicológica. Na vertente física são trabalhadas e desenvolvidas as várias qualidades físicas (força, resistência, velocidade, flexibilidade, etc.), adaptadas às necessidades individuais e do jogo. Na vertente técnica, simulam-se situações práticas em campo para tomada de decisão e também análise de vídeo dos jogos. Na vertente psicológica, os árbitros decidem se pretendem, ou não, acompanhamento psicológico.
Como é um dia normal de treino aqui no Complexo Desportivo Monte da Galega?
O treino dura por norma 1h30. Consoante o dia da semana e o período competitivo terão mais ênfase determinados parâmetros em detrimento de outros. Mas, no geral, um treino tem um período de aquecimento, onde se faz corrida lenta, mobilização articular, alongamentos e alguns exercícios mais específicos para o que se vai seguir. Faz-se também exercícios de força e reforço muscular. Depois vem a parte principal onde se trabalha o objectivo dessa sessão, por exemplo, velocidade. A seguir trabalho de carácter mais técnico, terminando o treino com exercícios de alongamento.
Como surgiu a oportunidade de treinar árbitros? Uma profissão que tendemos a associar ao universo masculino.
Eu era casada com um árbitro e, quando soube que havia uma vaga para Preparador Físico, mostrei a minha disponibilidade. Surgiu um convite, aceitei e estou há 14 anos nesta profissão que adoro. Sei que pode parecer um pouco estranho, uma mulher neste "mundo" da preparação física de árbitros mas, a verdade é que até hoje sempre senti que todos respeitam as minhas indicações. Para além desta actividade profissional, também sou personal trainer e professora de fitness e natação.
Quais as maiores dificuldades com que se depara no exercício da sua actividade como preparadora física?
As maiores dificuldades prendem-se com insuficiência de materiais e as adversas condições climatéricas que se manifestam quase sempre no local onde temos os treinos!
A Carla enquanto preparadora física de árbitros é...
Exigente, rigorosa e determinada.
Quais as características (pessoais e profissionais) que um árbitro deve ter?
Um árbitro deve ter uma estrutura psicológica muito forte para poder lidar positivamente com a pressão e críticas a que está constantemente a ser sujeito. Por outro lado, e como qualquer pessoa ao nível profissional, deve ser trabalhador, persistente, honesto e estar altamente motivado.
Que conselhos daria a um jovem que ambiciona ser árbitro?
Dado que não é uma carreira fácil, e até chegar ao topo é necessário um longo percurso, diria para trabalhar sempre muito, ser disciplinado, empenhado, persistente, e nunca perder o foco nos seus objectivos.
O sucesso constrói-se passo a passo!
Como define a arbitragem portuguesa?
Neste momento, e devido à saída de muitos árbitros do quadro, por términos de carreira, problemas físicos, como por exemplo Duarte Gomes, Olegário Benquerença, Pedro Proença, ficámos com uma arbitragem muito jovem e portanto com ainda alguma falta de experiência, mas acredito nas suas qualidades e no seu valor.
Como sei que trabalha diretamente com os árbitros portugueses e, para essencialmente não ferir susceptibilidades, que árbitro internacional a Carla distinguiria como sendo um bom profissional?
O italiano Nicola Rizzoli.
Relativamente ao Europeu 2016, acredito que a Carla esteja a acompanhar o desempenho, não só dos árbitros, mas também da equipa portuguesa, peço que distinga: