Como Passámos do Ronaldo aos Beijinhos dos Avós?
Completa(MENTE) escrito por Sónia Vaz
Eu sei. A história Ronaldo-Mayorga já cansa toda a gente. Mas ainda me preocupa. Preocupa-me o julgamento rápido, a intolerância, a leveza, a análise breve e… a opinião do meu filho. Estávamos apenas os dois no carro, a divagar nas nossas conversas, como tanto gostamos de fazer, quando ele me perguntou: “Mamã, afinal porque é que no outro dia disseste que já não gostavas assim tanto do Ronaldo?” (Oh God, inspira-te miúda, porque vais ter de descalçar esta bota!!!).
Perguntei-lhe se tinha ouvido alguma polémica acerca do jogador. Medo. Ele disse que sim. Que um amigo da escola (estão no 4º ano!!!!) lhe tinha contado que o CR7 tinha violado uma rapariga. Assim. Disse isto assim. Perguntei-lhe se sabia o que era violar. Assentiu. Expliquei-lhe que não temos a certeza do que aconteceu na realidade e por isso, não podemos julgar. Acrescentei que sim, me faz uma certa confusão que se dê tanto dinheiro a uma pessoa para ela ficar calada mesmo quando estamos inocentes. Para mim, isso é como quem paga o parquímetro e just in case ainda dá dinheiro ao arrumador só para que este não nos risque o carro. Não se percebe – ou melhor, eu não percebo.
E nisto, o meu filho continua: “Pois, e ela era namorada dele, por isso podiam ter sexo”. Pois, aí é que está. Não. Só podem quando querem os dois. Não interessa se é namorada, mulher, o que for. Tem de haver consentimento. Quando tiveres uma namorada não podes obrigá-la a fazer algo que ela não queira. E vice-versa. Chama-se consentimento, meu amor. E é a base de qualquer relação, entendes? Entendeu. Cresceu um pouco, ficou uma pessoa melhor, o meu menino.
E o que é que isto tem a ver com os beijinhos dos avós? – perguntam vocês.
Nada a ver e tudo a ver. Porque logo a seguir a esta história do Ronaldo, o meu feed de notícias começou a ser invadido por opiniões polémicas acerca de obrigar, ou não, as crianças a dar beijinhos aos avós. Algumas pessoas vão mesmo muito longe no seu julgamento (não julgar, não julgar, não julgar – será que nunca ouviram isto?). Li um artigo em particular, a favor dos beijos dos avós, que ridicularizava as pessoas que são contra (atenção, não aos beijos, mas ao ato de ‘obrigar’), que dizia que quem tem uma opinião destas nunca poderia ter tido avós queridos, que o amavam. Bem, discordo absolutamente disto. Tive um avô predileto que me dava todos os miminhos, passeava comigo de bicicleta, me ia buscar à escola e me chamava carinhosamente de ‘Delgadinha’. Um avô que todos os meninos merecem e que a única coisa a que me obrigou na vida foi a tratá-lo por você (por tu é que não!).
Adoramos avós. Adoramos netos. Adoramos as memórias, as histórias, os cheiros que ficam. Só não gostamos do não consentimento. Do “Se não dás um beijinho à avó, a avó não te compra um doce”, por exemplo. Porque o amor verdadeiro não é dependente, nem pedinchão. Não é prepotente, nem é mandão. O Amor não é quando eu quero. Nem quando tu queres. O Amor é consentido. O Amor é quando eu quero e tu também.
Sónia Vaz
Professora de Inglês - 1º Ciclo